quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

F.S. Hill

Para a Rute
Numa manhã igual a tantas outras,
depois de redescobrir a vida
que me resta
sob a pele humedecida
pelo rio que me beija os pés,
vi-me partir pelo ralo
daquele navio ancorado
no cais do silêncio.
Foi uma partida feliz,
em espiral,
como num passo de ballet,
subtil e harmonioso,
sem falsas despedidas
ou promessas vãs.
Desapareci-me sem deixar rastro.
Nem mágoa.
Ficou apenas este corpo
pronto a habitar
e algumas memórias a decorar
as suas paredes transparentes.
Deixei, também, o gira-discos
a tocar,
para não me sentir tão só.
A canção permanece
ecoando sobre o meu colo.
Os dias vagueiam pela casa
e os livros morrem de tédio.
Nem uma dor.
Nada.
E mesmo assim é tanto.

Poema retirado daqui.

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