O frio voltara, o Inverno envolvia aterra e a noite descia antes do último turno terminar o trabalho na fábrica. As crianças dormiam vestidas, as mulheres arregaçavam as saias para se aquecerem à lareira. Depois da chuva, a lama dos caminhos transformava-se em sulcos gelados, a luz dos candeeiros tremia no interior das casas e os pessegueiros tinham ramos nus e esqueléticos.
Durante as silenciosas e sombrias noites de Inverno, o café era o centro agradável para onde todos convergiam. As luzes brilhavam com tanta intensidade que podiam ser vistas a um quarto de milha. O enorme fogão de ferro fundido, ao fundo da sala, sussurrava dando estalidos, até ficar rubro. Miss Amélia arranjara cortinas vermelhas para as janelas e comprara a um caixeiro-viajante um braçado enorme de rosas de papel que pareciam naturais.
Mas não eram só as decorações e a claridade que faziam do café aquilo que era. Havia uma razão profunda para o café ser tão enaltecido. E esta razão profunda tinha que ver com um determinado orgulho antes desconhecido. Para compreender este novo sentimento é preciso não esquecer o pouco valor que se atribui à vida humana.
in Balada do Café Triste, Carson Mccullers, edição Relógio D'Água.
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