quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

os outros (100º poema)

Despimo-nos dos outros
secamente
e devagar ficamos
enlaçados

Enquanto a noite voa
no seu vento
procuramos a paz fora de tempo
e a ternura a meio da madrugada

Quem foi que nos
deixou
uma certeza?

Quem foi que nos
disse
encantamento?

Quem foi que nos
leu
a nossa vida?

Quem foi que nos
acendeu
o pensamento?

Que viagem difícil
de regresso

Que objecto difícil
de repor

Que adiado veneno
não tomado

Que estranha tempestade
sem fragor

Despidos meu amor
dos outros tarde
mas sedentos de esperança
sempre cedo

Acusados
Suspeitos
Devassados

A fazer amor
do nosso medo

in Poesia Reunida, edição D.Quixote, 2009.

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