quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nocturno

Apagaste as luzes e acendeste a noite.
Fechaste as janelas e abriste o vestido.
Cheirava a flor molhada. De um país sem limites
os teus olhos fixavam-me na sombra infinita.

A que cheiram os teus olhos? Que perfume de ouro
e de água limpa e pura brotava de tuas pálpebras?
Que invisível tremor de cristais de fogo
agitava a seda lunar das tuas pupilas?

Deixaste na cama a tua almofada com fios de azeviche.
Teceste sobre o sonho um véu de brancura.
Eras a rosa pálida estendendo-se de vermelho,
a rosa do veneno que devolve a vida.

A blusa, o leque, uma pluma violeta,
o pendente, com a pérola e o diamante, no peito.
Todo aberto em paz, transparente e escuro,
sem dor, navegando rumo às tuas mãos frias.
in Poesía (1979-1996), Visor

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