terça-feira, 28 de maio de 2013

em que dia nasceste?


És parecida com a Terra. Essa é a tua beleza.
Era assim que dizias.

E quando nos beijávamos e eu perdia respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que dia nasceste?

E me respondias, voz trémula:
estou nascendo agora.

E a tua mão ascendia
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde nasceste?

E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti, meu amor.

Era assim que dizias.

TU eras um poeta
Eu era a tua poesia

terça-feira, 21 de maio de 2013

éramos só nós sem nenhum segredo


numa noite de audácia incomparável
passo a tratar-te por tu, e abraço com as pontas dos dedos
os nós das tuas mãos; no fresco calor condicionado
de um quarto onde a luz não dá para ler, recito
estrofes e mitos; beijo-te, não é? nada estava escrito,
nenhuma verdade comum aos planetas,
éramos só nós sem nenhum segredo,
vivos e completos, serenos, mortais

Obrigado*

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Requiem por Muitos Maios



Conheci tipos que viveram muito. Estão
mortos, quase todos: de suicídio, de cansaço.
de álcool, da obrigação de viver
que os consumia. Que ficou das suas vidas? Que
mulheres os lembram com a nostalgia
de um abraço? Que amigos falam ainda, por vezes,
para o lado, como se eles estivessem à sua
beira?

No entanto, invejo-os. Acompanhei-os
em noites de bares e insónia até ao fundo
da madrugada; despejei o fundo dos seus copos,
onde só os restos de vinho manchavam
o vidro; respirei o fumo dessas salas onde as suas
vozes se amontoavam como cadeiras num fim
de festa. Vi-os partir, um a um, na secura
das despedidas.

E ouvi os queixumes dessas a quem
roubaram a vida. Recolhi as suas palavras em versos
feitos de lágrimas e silêncios. Encostei-me
à palidez dos seus rostos, perguntando por eles - os
amantes luminosos da noite. O sol limpava-lhes
as olheiras; uma saudade marítima caía-lhes
dos ombros nus. Amei-as sem nada lhes dizer - nem do amor,
nem do destino desses que elas amaram.

Conheci tipos que viveram muito - os
que nunca souberam nada da própria vida.

in Teoria Geral do Sentimento