segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Cansada de mim


Foi domingo e não descansei.
Foi domingo e não dancei.
Foi domingo e não amei.
Louvei deus nenhum.
Mortal comum,
cruzei dois dedos
e fingi acreditar.
Passou a manhã,
passou a tarde,
anoiteceu.
Os segundos como grainhas
de romãs, difíceis de descascar.
De chinelos e pijama de flanela
jantei com o gato
e flores na mesa,
dálias amarelas
a envelhecer devagarinho.
E o dia esteve bonito,
apesar do frio,
é dezembro, que se lhe há-de fazer.

inédito, Dezembro|2015
Foto: Imogen Cunningham, Three Dancers, Mills College, 1929

Vala comum


Os corpos arrumados como arenques numa lata,
de viés, uma cabeça dois pés, uma cabeça dois pés.
Os corpos quase intactos
preservados não em azeite, nem em óleo de girassol,
mas por um Inverno frio e pouco chuvoso.
Até as roupas estavam em bom estado.
As lãs e as fazendas são para lavar à mão e a frio.
E estavam todos lá, pais, avós, filhos, tios, primos, sobrinhos
e dois vizinhos que eram como família.

inédito, Dezembro|2015
Foto: Rémi Noel

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

En el amanecer te desvaneces


En el amanecer te desvaneces.
Sólo queda tu sombra entre mis manos,
una presencia de aire, anhelo y sueño y risa
que disipa su incendio consumido.

Con desesperación busco tu cuerpo,
el fugaz testimonio, ese deleite
de toda tu fragancia derramada,
cautiva todavía por mi piel.

Relumbras por mis médulas como un latido unánime,
como una ciega música que habitara en mi oído,
con su calor, su vibración de fondo,
su presencia invisible en el silencio.

Cruzo de la pasión a la demencia
persiguiendo tu espectro, el espejismo
de una imagen que asciende por la escala nocturna,
llevándote desnuda entre sus brazos.

Virginia


a louca atirou uma a uma
ao rio as poucas coisas que trazia
atirou-se também por fim
como poderia ela
como poderia
como poderia ela ter-se esquecido de si

in vida: variações (cotovia, 2008)
foto Olivia Steele 

nada é tão líquido assim


nem todos os homens que
saem de minha casa saem de minha cama
nem todos aqueles que
saem da minha cama saem de dentro de mim
nem todos os que
saem de dentro de mim chegaram sequer a lá entrar
não, nada é tão líquido assim

in vida: variações (cotovia, 2008)
pintura: Eli Levin, Woman in Bed, 1986,

fumo denso


Tu fumas à janela, olho pra ti espelhado nela,
A noite é longa e dentro dela, a chuva pinta uma aguarela
Somos tu e eu, só tu e eu, tu e eu, só tu e eu...
E é quando me tocas que eu sei. Eu sei.
Porque é que eu ainda não te ultrapassei. E sei...
Que nada eu que eu vivi ou viverei
Pode ser maior que o nosso fogo e neste jogo todo és rei.
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume... o cheiro...
E é quando me falas que eu sinto...
Que as palavras são amargas como o tinto
E esses lábios doces cor de vinho
Só me mentem ao dizer “Eu não te minto”!
E nesses olhos verdes absinto
Eu só consigo ver um labirtinto.
E é quando tu te calas que eu penso...
Porque é que não és feito de silêncio?
Dás-me um copo que eu dispenso
Estendo o corpo e adormeço
sono tenso, sonho intenso
entre nós só fumo denso
fumo denso...
é só fumo denso...
fumo denso...
Dás-me um copo que eu dispenso
Estendo o corpo e adormeço
sono tenso, sonho intenso
entre nós só fumo denso
só fumo denso...
fumo denso...
é só fumo denso...
...
Tu fumas à janela, olho pra ti espelhado nela,
A noite é longa e dentro dela, a chuva pinta uma aguarela
Somos tu e eu, só tu e eu, tu e eu, só tu e eu...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro...
O lume... O cheiro...

suspender a noite e o coração


é porque existe o desejo, o olfacto, e o medo,
e os vivos apaixonam-se por outros vivos,
e lembram-se, por vezes, do enorme número de mortos,
e dentro destes há alguns que os fazem desligar a luz e o trabalho,
e o quotidiano aí já não basta,
porque o coração tem em certos dias um orçamento incomportável

E não basta então a mulher que amamos,
nem os filhos
- os que nos vão sobrevive no tempo -
e é preciso sair, e não basta sair para a rua e correr,
é preciso sair dos ossos,
fugir do obrigatório, à casa,
encontrar dentro dos bolsos o bocado de uma carta, de um mapa,
fragmento que possa reconstruir o caminho para a casa da infância
onde Deus era chocolate e o resolvíamos
assim, de uma vez, porque o comíamos

Porque mais tarde crescemos e ganhámos
dinheiro, família, e alguns outros assuntos,
mas perdemos qualquer coisa de que é impossível falar,
de que não sabemos falar.

E é preciso isso tudo,
e por quase tudo o que faltou dizer,
é por isso que é bom, por vezes,
suspender a noite e o coração,
e obrigar o cérebro à paragem surpreendente.

E é por isso que é bom, por vezes,
ocuparmos o corpo no acto de sentar,
e pedir, então, à arte, à literatura, ao teatro,
que nos salve,
por enquanto,
antes de morrermos.

A colher de Samuel Beckett e outros textos, Campo das Letras, 2002.
foto (Audrey Hepburn & Mel Ferrer, França, 1956.)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

dilúvio


Chove. As ambulâncias já ligaram as suas sirenes. O acidente ainda não aconteceu, mas com certeza não vai tardar. E, por isso, quando chove, penso na morte. Na morte daqueles que amo e de todos aqueles que deveria ter amado se soubesse como. As ambulâncias desligam as sirenes. Levo a mão ao sexo. Modo de chorar. Modo de despedida.
Chove. Cheira a narcisos no centro da cidade. As velhas estão dentro de casa aconchegando o tempo às pernas exangues. O sangue teima em circular embora a cabeça descaia vezes de mais. As velhas estão dentro de casa, salvo aquela que aquece sempre os pés na calçada. Percorre as ruas da cidade faça sol faça chuva. E nos seus cabelos compridos a chuva deixa gotas que parecem pérolas.
Chove. Nos centros comerciais, há homens sentados junto às escadas rolantes. Estão pensativos. De vez em quando, esticam o pescoço, giram-no para a esquerda para a direita, movem-no para cima para baixo. Pensam na vida. Ela corre dentro deles como se fosse explodir dentro de segundos. E vai. Não estes segundos, mas outros, os próximos, talvez. Agora, ela chega-lhes em catadupa, escorre para fora deles.
A chuva parou. As putas animam os passeios trocando receitas de cozinha. Riem mostrando os dentes negros. Nascem, estão a nascer, novos clientes. Hão-de crescer depressa. Hão-de levar as mãos aos bolsos. Quanto a elas, é certo que não morrerão nunca.
Uma mulher está sentada a uma mesa. Leva de vez em quando o cigarro aceso aos lábios. Observa discretamente quem passa, não vá pensarem… Não tem importância, ela pensa por eles. Pensa com tanta força que parte a caneta contra a página. Ou então pára de escrever. Risca a página como se mudasse de vida.
Recomeça a chover. Calo-me. Por que não chove ininterruptamente durante um século? Criámos um deus de amor, mas não fazemos a menor ideia do que seja amar.

foto de Sónia Silva

terça-feira, 10 de novembro de 2015

hoje vou com aquele que me levar


e se for uma mulher
vou com as suas mãos que remendam
e não substituem
e se for um homem
vou com as suas mãos que remendam
e não substituem
e se ninguém houver
vou com ninguém que me leva sempre
para onde não quero
e vou com as suas mãos que substituem não remendam
é por isso que à noite
espreito para a janela dos comboios
e cumprimento-me timidamente

texto via blog de tanto bater o meu coração parou
foto de Sónia Silva

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Lido 3


Afirmas que brigamos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
E vais à cave içar o teu malão.
Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembranças? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens
Não te devolvo – é minha – a tua pele.
Achei ali um sonho muito velho.
Não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
Que eu costumo vestir quando está frio?
E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?
A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?
Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro.

Via blog Sketches for my sweetheart the drunk
ilustração Sebastião Peixoto

Lido 2


Como em ti, há em mim várias camadas de mortos não sei até que profundidade.
Raul Brandão

Via blog o corpo estremece de saudade

Lido


Gostava de me voltar a cruzar com todos os homens com quem já estive e dizer-lhes:

Agora

estou

assim.

Via blog Dias Cães.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Só queria ser uma dessas pessoas


Só queria ser uma dessas pessoas
que ao fim do dia passeiam o cão pelo jardim
com um saco de plástico para recolher a merda.
Dessas que ninguém dúvida
que tem uma família feliz à espera.
E uma família feliz não é um prato
encomendado no chinês do bairro,
para aquecer no micro-ondas,
é uma mulher que quer envelhecer comigo
e que a cada noite me dá a mão e me leva
do sofá para a cama.

inédito, Novembro|2015
Foto: Couple, François Kollar, 1930

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

#moodtonight

Foi como amor aquilo que fizemos
Sem manhã sujeitos ao presente;
Os dois carentes
Foi logro aceite quando nos fodemos.

Foi circo ou cerco, gesto ou estilo
O termos juntos
Sexo com ternura
Foi candura
Num clima de aparato e de sigilo

Num clima de aparato e de sigilo
Num clima de aparato e de sigilo.

Se virmos bem
Ninguém foi iludido
De que era a coisa em si - só o placebo
Com algum excesso
Com algum excesso que acelera a líbido.

E eu palavrosa, injusta desconcebo
O zelo de que nada fosse dito
E quanto quis
E quanto quis tocar em estado líquido.

Foi circo ou cerco, gesto ou estilo
Num clima de aparato e de sigilo
Foi circo ou cerco, gesto ou estilo
Num clima de aparato e de sigilo
Foi como amor aquilo que fizemos
Os dois carentes
Foi logro aceite quando nos fodemos


domingo, 1 de novembro de 2015

Tive um coração, perdi-o

Tive um coração, perdi-o
Ai quem mo dera encontrar
Preso no lodo dum rio
Ou afogado no mar

Quem me dera ir embora
Ir embora e não voltar
A morte que me namora
Já me pode vir buscar

Tive um coração, perdi-o
Ainda o hei-de encontrar
Preso no lodo dum rio
Ou afogado no mar


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Esta é a noite mais triste, porque me vou embora e não volto mais.

Esta é a primeira frase de Jay, personagem da fascinante história de Hanif Kureishi sobre o final de um relacionamento.
Intimidade, de Hanif Kureishi (trad. Inês Dias)

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

o meu sangue são a tua dor


Desfloras-me
desfloro-te
porque temos flores
um para o outro
o teu ritmo
em mim
sobre mim
tão novo
para mim
é muito antigo
é como o dos animais
ganho a minha virgindade
que te dou
e que não perco
sou sempre virgem
a minha dor
o meu sangue
são a tua dor
o teu sangue

Ar livre


 Anjo Ferozmente Humano - tradução de Miguel Filipe Mochila (língua morta 059)

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Uma espécie de perda


Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos,
utilizados, gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos.
Fizemos. E estendemos sempre a mão.
Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,
( - o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um
apontamento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.
De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a
sua cor mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.
Não te perdi a ti,
perdi o mundo.

o tempo aprazado
(últimos poemas 1957-1967)
trad. judite berkemeier e joão barrento
assírio & alvim
1992
Via blog canal de poesia
foto: Dear Caffeine

manobras de outono


Não digo: isso foi ontem. Com insignificantes
trocos de Verão nos bolsos, estamos de novo deitados
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.
E a nós não nos é dada, como aos pássaros,
a retirada para o sul. À noite passam por nós
traineiras e gondolas, e por vezes
atinge-me um estilhaço de mármore impregnado de sonho,
onde a beleza me torna vulnerável, nos olhos.
Leio nos jornais muitas notícias - do frio
e suas consequências, de imprudentes e mortos,
de exilados, assassinos e meríades
de blocos de gelo, mas pouca coisa que me dê prazer.
E porque havia de dar? Ao pedinte que vem ao meio-dia
fecho-lhe a porta na cara, porque há paz
e podemos evitar essas cenas, mas não
o triste cair das folhas à chuva.
Vamos viajar! Debaixo dos ciprestes
ou de palmeiras ou nos laranjais, vamos
contemplar a preços reduzidos
inigualáveis pôr-do-sol! Vamos esquecer
as cartas ao dia de ontem, não respondidas!
O tempo faz milagres. Mas se chegar quando não nos convém,
com o bater da culpa - não estamos em casa.
Na cave do coração, desperto, encontro-me de novo
sobre o joio do sarcasmo, nas manobras de Outono do tempo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Tarefas domésticas


Beijamo-nos como quem,
debaixo do mesmo tecto,
limpa o pó, aspira o chão,
desempoeira o corpo
carente de afecto.
Mas precisar não é pertencer,
há sempre uma cortina,
um tapete que pode esconder.
Precisar é como respirar,
é coisa de repetir sem pensar,
e nós corpos que não são do outro um,
corpos que depois do amor,
já não é amor e ainda lhe chamamos amor,
amargos por dentro, mudam de cama,
evitam a intimidade do sono
como cães sem dono, ao abandono.

Raquel Serejo Martins, inédito, Outubro|2015

Na floresta do alheamento


Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque cansa, da vida, porque farta e não sacia, e até da morte, porque traz mais do que se quer e menos do que se espera.

In Na floresta do alheamento [do Livro do Desassossego em preparação], in A Águia, n.º 20 [2.ª série], agosto de 1913, pp. 38-42. Via blog Equinócio de Outono.

Under a full moon madness


Incendiou a minha casa,
agora nada obstrui
a visão da lua.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

there is a light that never goes out


via blog sketches for my sweetheart the drunk

Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém

Via blog primeiramente.

e eu vejo através da fechadura que o tempo continua escuro


não houve tempo para despedidas
dentro de casa há lâmpadas acesas
no final da tarde
quando a luz projecta sombras na parede
a casa é como uma paisagem
e eu vejo através da fechadura
que o tempo continua escuro

Seria mais feliz um momento ...


Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Melancholia


Mela, Mela, Mela, Mela, Melancholia
Melancholia, mon cher
Mela, Mela, Mela, Mela, Melancholia
schwebt über der neuen Stadt
und über dem Land 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Quiet These Paintings Are


Quietly these colours will fade
but soon they will be as one.
For a moment i will stare
into this deep saddened sea
and will suffer the death's fright.

Under these waves emotions lay,
still never they'll return
as they are laid to rest.
Into this one lonely life,
which, perhaps is growing.
Painfully...
into life to die...

terça-feira, 15 de setembro de 2015

The final cut


loving you is like loving the dead


Onde quer que o encontres
escrito, rasgado ou desenhado:
na areia, no papel, na casca de
uma árvore, na pele de um muro,
no ar que atravessar de repente
a tua voz, na terra apodrecida
sobre o meu corpo – é teu,
para sempre, o meu nome.

como se o meu corpo fosse a sua casa


O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

"Once divided...nothing left to subtract...
Some words when spoken...can't be taken back...
Walks on his own...with thoughts he can't help thinking...
Future's above...but in the past he's slow and sinking...
Caught a bolt 'a lightnin'...cursed the day he let it go..."

in Nothingman, Pearl Jam.

domingo, 13 de setembro de 2015

Ooh, I know she gave me all that she wore

Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay
Were laid spread out before me as her body once did.
All five horizons revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed has taken a turn

Ooh, and all I taught her was everything
Ooh, I know she gave me all that she wore
And now my bitter hands chafe beneath the clouds
Of what was everything.
Oh, the pictures have all been washed in black, tattooed everything...

I take a walk outside
I'm surrounded by some kids at play
I can feel their laughter, so why do I sear?
Oh, and twisted thoughts that spin round my head
I'm spinning, oh, I'm spinning
How quick the sun can drop away

And now my bitter hands cradle broken glass
Of what was everything?
All the pictures have all been washed in black, tattooed everything...

All the love gone bad turned my world to black
Tattooed all I see, all that I am, all I'll be... yeah...
Uh huh... uh huh... ooh...

I know someday you'll have a beautiful life,
I know you'll be a star in somebody else's sky, but why
Why, why can't it be, can't it be mine

It's like a pain in the chest

We're breaking promises we thought we could keep
We trigger avalanches unknowingly
We travel in and out, we take off, we land
We live in airports like we don't have a plan
This is a journey and we call it home,
And when it stops we're feeling miserable, well
We're breaking promises we thought we could keep
We trigger hurricanes unwillingly
It's our fault
When it all
Breaks into everyone's lives
But are we really to blame?
It's like a pain in the chest
Despair, Hangover and Ecstasy
So many people around
We disappoint and let down
And though we're trying our best
(...)


sábado, 12 de setembro de 2015

beijo


quando te beijo o beijo que tu me beijas
é que a flor envolve a terra que toca a flor
e é só a forma de os meus lábios dizerem que sim
e de os teus lábios dizerem que não
que não houve tempo antes de nós

amor turvo


O amor revela-se aos tropeções: caminhamos com os pés sobre o pavimento liso. Damos de súbito uma topada, perdemos o equilíbrio e embatemos no olho direito da pessoa que vinha no nosso sentido. Ela quase cega, mas apaixona-se por nós. E assim nasce um amor turvo.

underwater love

This must be underwater love
The way I feel it slipping all over me
This must be underwater love
The way I feel it

O que que é esse amor, d'água
Deve sentir muito parecido a esse amor

This is it
Underwater love
It is so deep
So beautifully liquid

Esse amor com paixão , ai
Esse amor com paixão, ai que coisa

After the rain comes sun
After the sun comes rain again
After the rain comes sun
After the sun comes rain again
After the rain comes sun
After the sun comes rain again

This must be underwater love
The way I feel it slipping all over me
This must be underwater love
The way I feel it

O que que é esse amor, d'água
Eu sei que eu não quero, mais nada

Follow me now
To a place you only dream of
Before I came along

When I first saw you
I was deep in clear blue water
The sun was shining
Calling me to come and see you
I touched your soft skin
And you jumped in with your eyes closed
And a smile upon your face

Você vem, você vai
Você vem ê cai
E vem aqui pra cá
Porque eu quero te beijar na sua boca
Que coisa louca
Vem aqui pra cá
Porque eu quero te beijar na sua boca
Oh, que boca gostosa

After the rain comes sun
After the sun comes rain again
After the rain comes sun
And after the sun comes rain again

Cai e cai e tudo tudo cai
E tudo cai pra lá e pra cá
Pra lá e pra cá
Vamos nadar
E vamos nadar e tudo tudo dá

This must be underwater love
The way I feel it slipping all over me
This must be underwater love
The way I feel it

Oh oh d'água Underwater
Oh underwater love
This underwater love
This underwater love
Underwater love

domingo, 6 de setembro de 2015

amor bateu para ficar



amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso
recuo súbito da trama

delírio de arquivística



Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos.

Primeiro amor


Gostava muito dele
mas nunca lhe disse isso
porque a minha criada tinha-me avisado
se gostar de um rapaz
nunca lhe diga que gosta dele
se diz
ele faz pouco de si para sempre
os rapazes são maus
eu não era bela
nem sabia quem tinha pintado os Pestíferos de Java
resolvi assim escrever-lhe cartas anónimas
escrevia o rascunho num caderno pautado
não sei hoje o que escrevia
mas sei que nunca escrevi
gosto muito de ti
e depois pedia a uma rapariga muito bonita
que passasse as cartas a limpo
eu acreditava que quem tinha uns cabelos
assim loiros e a pele fina
devia ter uma letra muito melhor que a minha
agora que conto isto
vejo que deixo muitas coisas de fora
por exemplo que o meu primeiro amor
não foi este mas o Paulo
o irmão da rapariga bonita

Às vezes despedimo-nos tão cedo


Às vezes despedimo-nos tão cedo
que nem lágrimas há que nos suportem o
peso da voz à solidão exposta
ou
de lisboa no corpo o peso triste
Às vezes é tão cedo que nos vemos
omitidos
enquanto expõe
o peso insuportável do amor
a despedida
É tão cedo por vezes que lisboa
estende sobre os corpos o desgosto
Com os dedos no crânio despedimo-nos

Dançamos pela noite dentro.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O momento


O momento quando, após muitos anos

de trabalho duro e uma longa travessia

te encontras no centro do teu quarto,

casa, meio acre, milha quadrada, ilha, país

sabendo por fim como lá chegaste,

e dizes, eu possuo isto,


é o mesmo momento em que as árvores desatam

os seus macios braços em teu redor,

as aves retiram a sua língua,

as falésias fissuram e colapsam,

o ar vem devolvido de ti como uma onda

e tu não consegues respirar.


Não, murmuram eles. Tu não possuis nada.

Tu foste um visitante, uma e outra vez

subindo a colina, cravando a bandeira, proclamando.

Nós nunca te pertencemos.

Tu nunca nos encontraste.

Foi sempre o contrário.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

terça-feira, 25 de agosto de 2015

vénus em chamas


Pedem tanto a quem ama:
pedem o amor.
Ainda pedem a solidão e a loucura

Via Maria Lucia.
foto: Christian Schloe Digital Artwork

abismos


"E, aquele que não morou nunca em seus próprios abismos nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas não foi marcado. Não será marcado. Nunca será exposto às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema."

she says


I barely knew I had skin before I met you.
—Sarah Waters, 'The Paying Guests'
photo by Ernestine Ruben
via Sex Reader II

a boca


Levar-te à boca,
beber a água mais funda do teu ser
se a luz é tanta,
como se pode morrer?

Via Maria Lucia

perguntava coisas tontas


Eu sempre perguntava coisas tontas,
é certo. Perguntava, por exemplo,
se voltarias a amar-me tanto
como nos dias do amor mais jovem,
ou mesmo mais, ou mesmo mais que nunca,
mesmo mais que a ninguém, e se serias
capaz de confessá-lo ante qualquer.
É certo, perguntava coisas tontas,
não merecia uma resposta séria.
Aquele ser, mais escuro que a noite
mais escura da alma, respondia
sem olhar-me nos olhos: «Nunca mais.»

dust to dust


viver é uma hemorragia calculada

Às vezes
perigosamente
as veias coagulam
Não percebem:
viver é uma hemorragia calculada


Via Maria Lucia.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

i love you nor do i

- amas-me?
- amo-te.
ama-se sempre quando alguém nos pergunta.


Via blog a faca não corta o fogo.

Well, I just had to let you go


You were at my door
I heard you knocking but I didn't care at all
I had been in all night just staring at the wall
I didn't really want to see you anymore

Coming from the road
You took your coat off and you threw it on the floor
You said "I can't believe you wanna hurt me so"
I said "I'm not supposed to be like this, you know"
Well, I just had to let you go

What's on your mind?
When you're lost in time
What's on your mind?
Tell me why
Why does it have to be this way?

You were in that dream that I was dreaming
I was dreaming in a dream
Your nylon dress and I was floating back downstream
I wanted love to come and swallow everything

Everything gets real
Sooner or later, doesn't matter how you feel
You slammed that door shut on the night of glass and steel
I cannot blame you for believing what you believe
Well, I just had to let you go

Why do you always stay
Miles away
And two steps behind
Where the past is still living
Beautiful and forgiven
Do you not see
That you live in a dream
Hey

terça-feira, 7 de julho de 2015

PÉTALAS NEGRAS ARDEM NOS TEUS OLHOS


Sabemos que o tempo passou
Que alguma coisa deveria ter sido dita
(talvez depois, talvez mais tarde)
Deixamos atrás de nós
Uma sequência desconexa de gestos irreparáveis
E, feridos,
Por todas as coisas
que poderíamos ter evitado a nós próprios
Caminhamos para o silêncio
E para a escuridão indefinível dos bosques.