quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Tijuana

No canto da sala recordo-me de Lila Downs, mexicana trintona que canta nos botecos de seu país amores perdidos (amores perros!) com a frescura de todos eles terem partido na noite anterior. À minha frente uma mulher que apesar de não ter o encanto de Lila canta com angústia dores semelhantes em ritmo lento e compassado do bolero uma apologia de dor à espera que se esbata contra o meu peito à procura de abrigo.
Fumo um cigarro, já perdi a conta aos que já passaram, sou iluminado por uma dezena de candeeiros unicolores da loja dos 300, ainda que haja breu suficiente para dar elegância à decadência de emoções. 
Estou em Tijuana ou pelo menos quero acreditar nisso, talvez esteja a um oceano de distância. Eu, a mulher e mais dois vultos enamorados preenchemos a sala, os vultos não pertencem á minha Tijuana, os enamorados não partilham as dores, eu e a mulher sufocamo-nos com a nossa solidão. O cortejo de sons quentes se esfuma e volto para casa, a minha comoção ficou naquela sala, outros amores ficaram naquela sala.
Chego a casa, vou de encontro à minha bela mulher, beijo-a delicadamente na boca e renovo-lhe os meus votos de amor eterno com a esperança de que quando voltar aquela sala não partilhe mais amores perdidos com a senhora que me lembra Tijuana.

Bruno M.

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