1.
Tempo de dança num vago compasso de bela toada
fecha solene a última festa do longo inverno.
Chove de novo na húmida noite gelada de março;
nada faria prever o perfume da música nova.
Vejo agora teu rosto no espelho da sala dourada;
luzem teus olhos ao brilho das velas nos lustres acesos,
quando de novo a orquestra entoa a música nova,
sempre que soa no brilho da sala a triste gavote.
Música minha alheia não soa às árvores altas:
ramos e folhas ondulam à chuva na escura montanha,
cantam por mim o que vejo ao ver-te no límpido espelho,
hoje que mais do que nunca rebrilham teus olhos brilhantes.
Pena seria portanto perdermos a última dança;
ambos sabemos que vêm vazios compassos de espera,
logo que raie daqui a minutos a pálida aurora,
ela que traz como sempre o ocaso dos nossos amores.
in Relâmpago, n.º 27, Fundação Luís Miguel Nava, Lisboa, 2010.
Poema retirado daqui.
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