quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Tarefas domésticas


Beijamo-nos como quem,
debaixo do mesmo tecto,
limpa o pó, aspira o chão,
desempoeira o corpo
carente de afecto.
Mas precisar não é pertencer,
há sempre uma cortina,
um tapete que pode esconder.
Precisar é como respirar,
é coisa de repetir sem pensar,
e nós corpos que não são do outro um,
corpos que depois do amor,
já não é amor e ainda lhe chamamos amor,
amargos por dentro, mudam de cama,
evitam a intimidade do sono
como cães sem dono, ao abandono.

Raquel Serejo Martins, inédito, Outubro|2015

Sem comentários: