quinta-feira, 29 de março de 2012

Lourenço Marques

Certo dia chegou um papelinho oficial a comunicar que o meu pai tinha quinze dias para abandonar o país. Se ficasse, avisavam, corria o risco de ser preso por traição, por infame conivência com a anterior potência colonizadora. A ordem de expulsão era assinada, numa letrinha redonda que sugeria certo recato, por um tal Armando Guebuza. Ficou a minha mãe sozinha no apartamento de Lourenço Marques, na Avenida Central, com três filhos, o trabalho no dispensário, uma vida inteira para despachar em caixotes e contentores. Como se embalam as memórias, os hipopótamos descansando nos lagos, as nuvens taurinas abatendo-se na baía, o chão encerado da casa de Tete? Como se encaixota o cheiro doce das mulheres, a brancura fosforescente dos dentes do meninos? A minha mãe teve apenas ajuda de um amigo, o Gomes, um homem pequenino, com uns dentes muito salientes, a fazer lembrar um esquilo gigante, que se desfazia em diligências, ia buscar um papel ali, carimbava outro acolá, dizia Solange é preciso você fazer isto ou tratar daquilo. Contudo, pobre esquilo, era incapaz de um gesto arriscado, de um suborno, de mover uma influência, de dar uma palavrinha a um chefe de repartição para acelerar o caso da minha mãe. Cumpria escrupulosamente as regras estabelecidas pela administração do recém-nascido país que desprezava com dissimulação. Apesar da catadupa de dificuldades, a minha mãe conseguiu embalar tudo. Ficou só a Vitória, empregada-menina, chorando a um canto da cozinha amarela, dizendo que também queria vir para a metrópole. Por muito que a minha mãe lhe explicasse que a nossa vida futura era uma incerteza, que não se podia responsabilizar por ela, a Vitória derramava lágrimas grossas, violáceas como a noite. Assegurava que, se preciso fosse, cruzaria os mares enfiada num contentor, sentada na cadeira de palhinha onde costumava dar de mamar à minha irmã.
Tratados os papéis, a minha mãe preparou-se para voltar. Vestiu-nos as melhores roupas. O meu irmão calçou os sapatos de verniz com fivela e penteou os caracóis com um pente de dentes largos. Porém, uma mulher branca, sozinha, com duas meninas e um menino mulato, que não era seu filho, levantava sérias inquietações aos zelosos guardas do aeroporto. Para seguir viagem, disseram, a minha mãe teria de arranjar uma autorização da mãe biológica do meu irmão. Nunca soubemos como a minha mãe conseguiu trazer o meu irmão, como evitou essa perda irreparável, como garantiu que continuássemos para sempre a ser três. Ela não conta. Mas eu desconfio que, ao contrário do Gomes, o ajudante-esquilo, a minha mãe sabia como as coisas funcionam em Moçambique. Nessa tarde, os guardas do balcão de embarque do aeroporto celebraram o dia. Tiveram com que pagar o amor ordinário das ruas esconsas da cidade. Comeram travessas róseas de camarão tigre. Beberam até os corpos adormecerem de cansaço. E não repararam na abóbada celeste que, nessa noite, se cobriu de estrelas violáceas, iguais às lágrimas grossas de uma menina que nunca chegou a cruzar o mar.

(O melhor dos jantares de família são as memórias laurentinas que desfiamos com descontida emoção até ao momento em que o meu pai, já bebido, começa a chamar filho da puta ao Armando Guebuza. Grandessíssimo filho da puta, é como ele diz. Nós calamo-nos, embaraçados. Não se ofende assim, por dá cá aquela palha, o presidente da república de um país.)
Texto de Ana Cássia Rebelo - via blog Ana de Amsterdam

quarta-feira, 28 de março de 2012

don't fade away

Don't fade away
My brown-eyed girl
Come walk with me
I'll fill your heart with joy
And we'll dance through our isolation
Seeking solace in the wisdom we bestow
Turning thoughts to the here and everafter
Consuming fears in our fiery halos

Say what you mean
Mean what you say
I've heard that innocence
Has led us all astray

But don't let them make you and break you
The world is filled with their broken empty
dreams
Silence is their only virtue
Locked away inside their silent screams

But for now
Let us dance away
This starry night
Filled with the glow of fiery stars
And with the dawn
Our sun will rise
Bringing a symphony of bird cries

Don't bring me down now
Let me stay here for awhile
You know life's too short
Let me bathe here in your smile
I'm transcending
The fall from the garden

Goodnight (miss V.**)

Fura Del Baus em Guimarães 2º Espectáculo -"Tempo para Criar"!

sábado, 24 de março de 2012

Help me 'cause I'm feeling shaky

I, I can't take things slowly
Come let away that's what they all do
Help me 'cause I'm feeling shaky
Tell me what's wrong with my brain
'Cause I've seem to have lost it

'Cause I am afraid of the light
Yeah you know what I mean
And I can't sleep alone at night
Yeah you know what I mean
Lonely, that's not quite my problem
I have all that I need, haven't quite lost it
I try so hard to be happy
'Cause something goes wrong once again

Please, please come and save me
Tell me what's wrong with my brain
'Cause I've seem to have lost it

'Cause I am afraid of the light
Yeah you know what I mean
And I can't sleep alone at night
And you know what I mean.

Ovunque proteggi

Non dormo, ho gli occhi aperti per te.
Guardo fuori e guardo intorno.
Com'è gonfia la strada
di polvere e vento nel viale del ritorno...

Quando arrivi, quando verrai per me
guarda l'angolo del cielo
dov'è scritto il tuo nome,
è scritto nel ferro
nel cerchio di un anello...

E ancora mi innamora
e mi fa sospirare così.
Adesso e per quando tornerà l'incanto.

E se mi trovi stanco,
e se mi trovi spento,
sei meglio già venuto
e non ho saputo
tenerlo dentro me.

I vecchi già lo sanno il perché,
e anche gli alberghi tristi,
che il troppo è per poco e non basta ancora
ed è una volta sola.

E ancora proteggi la grazia del mio cuore
adesso e per quando tornerà l'incanto.
L'incanto di te...
di te vicino a me.

Ho sassi nelle scarpe
e polvere sul cuore,
freddo nel sole
e non bastan le parole.

Mi spiace se ho peccato,
mi spiace se ho sbagliato.
Se non ci sono stato,
se non sono tornato.

Ma ancora proteggi la grazia del mio cuore,
adesso e per quando tornerà il tempo...
Il tempo per partire,
il tempo di restare,
il tempo di lasciare,
il tempo di abbracciare.

In ricchezza e in fortuna,
in pena e in povertà,
nella gioia e nel clamore,
nel lutto e nel dolore,
nel freddo e nel sole,
nel sonno e nell'amore.

Ovunque proteggi la grazia del mio cuore.
Ovunque proteggi la grazia del tuo cuore.

Ovunque proteggi, proteggimi nel male.
Ovunque proteggi la grazie del tuo cuore.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre
com faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

oh l'amour

Quando nos apaixonamos, ou estamos prestes a apaixonar-nos, qualquer coisinha que essa pessoa faz – se nos toca na mão ou diz que foi bom ver-nos, sem nós sabermos sequer se é verdade ou se quer dizer alguma coisa — ela levanta-nos pela alma e põe-nos a cabeça a voar, tonta de tão feliz e feliz de tão tonta. E, logo no momento seguinte, larga-nos a mão, vira a cara e espezinha-nos o coração, matando a vida e o mundo e o mundo e a vida que tínhamos imaginado para os dois. Lembro-me, quando comecei a apaixonar-me pela Maria João, da exaltação e do desespero que traziam essas importantíssimas banalidades.
Gosto mais de estar com ela a fazer as coisas mais chatas do mundo do que estar sozinho ou com qualquer outra pessoa a fazer as coisas mais divertidas. As coisas continuam a ser chatas mas é estar com ela que é divertido. Não importa onde se está ou o que se está a fazer. O que importa é estar com ela. O amor nunca fica resolvido nem se alcança. Cada pormenor é dramático. De cada um tudo depende. Não é qualquer gesto que pode ser romântico ou trágico. Todos os gestos são. Sempre. É esse o medo. É essa a novidade. É assim o amor. Nunca podemos contar com ele. É por isso que nos apaixonamos por quem nos apaixonamos. Porque é uma grande, bendita distracção vivermos assim. Com tanta sorte.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (14 Fev 2012)'

quinta-feira, 15 de março de 2012

Division Street

Trouxeste-me aqui para acabar tudo,
numa terça-feira irrespirável. A destilaria de uma tempestade,
os pombos lustrosos da chuva.
O meu guarda-chuva preto flectia as varetas.
Pele encharcada, fiz o caminho até à multidão
dos bares, onde casais passam entre si
comprimidos brancos de língua para língua, leves como chuva
miudinha, os teus dedos pelo meu cabelo,
como quando quase me passavas
qualquer coisa ao sangue.

Na clínica, perguntaram se eu tinha tatuagens,
e eu lembrei-me outra vez deste lugar –
a icterícia das paredes, o tricô lamuriento
da agulha sobre o osso, e, por momentos,
quase me apeteceu que tivesses deixado a tua marca;
subtil como a estrela que cubro com T-shirts,
a memória da chuva, os teus passos, de cabeça baixa,
ao longo de Division Street, cada semana mais lento,
parado junto aos bares, com janelas tão baças,
que só nos vemos a nós reflectidos nelas.

De The Shape of Every Box(2007)
* Uma rua de Sheffield, de onde a autora é originária. Possivelmente, também, um (óbvio) jogo de palavras.
Via Agio — Cadernos de ideias, textos e imagens é o resultado da junção de duas revistas literárias: a Agio e a Ítaca.

Prece

Minha alma leve,
peço-te que vás a Livorno.
E com tua candeia
tímida, à noitinha,
dá uma volta; e, se tiveres tempo,
explora e perscruta, e escreve
se por acaso Anna Picchi
ainda estiver viva entre os vivos.

Ainda hoje retorno,
desiludido, de Livorno.
Mas tu, bem mais nítida
do que eu, a camisola
lembrarás, e o rubi
de sangue, na gargantilha
de ouro que ela tinha
no peito, embaciado.

Minh’alma, sê boa
e vai à procura dela.
Tu sabes o que eu daria
para encontrá-la na rua.
Via Poesia Ilimitada

Os primeiros momentos

Amo os primeiros momentos da manhã
aqueles momentos que ainda ninguém usou
tão limpos
que deves lavar os pés antes de os habitares
aqueles momentos que cheiram como pétalas de rosa e erva cortada
e encharcam a tua roupa com orvalho

Irás chocar com segredos
descobrir milagres cobertos habitualmente pelo fumo dos autocarros
escutarás puros ecos sussurros e corridas precipitadas

Amo os primeiros momentos da manhã
quando o sol tem um só olho aberto
e o dia é como uma camisa lavada
sem vincos e pronta a usar
aqueles momentos que prendem a tua atenção
por serem tão sossegados
Via Poesia Ilimitada

quarta-feira, 14 de março de 2012

No terreno

Foi por altura das ervas altas e dos arraiais.
Eu via-te outra vez ao fim da tarde e tudo se apagava
à tua volta, os acidentes terrenos, as montanhas do passado
e do futuro. Por tua causa eu andava contente
nas ruínas, fazia as pazes com o tempo perdido.

Na estrada à meia-noite o asfalto era morno, os grilos
estavam todos a cantar dentro do céu. Já não sei dizer
o muito que esperei de ti, os serões eram pródigos
e tinham os braços imprevistos de um fractal.

Fumavas dos meus cigarros, falavas da vida que tinhas
a milhares de quilómetros dali. Na minha própria
e exclusiva escuridão, eu já só existia para ti.

in Super-Realidade, Língua Morta, 2011.
Via Língua Morta.

That Leaving Feeling

We all have dreams of leaving
We all wanna make a new start
Go and pack a little suitcase
With the pieces of our hearts
All those worries and those sorrows
We can just dust them away
Buy a coffee and a paper
And go step on to a train

I let love in

era assim:

queres?
queres algo?
queres desejar?
desejas querer?
desejas-me?
desejas querer-me?
queres desejar-me?
queres querer-me?

queres que te deseje?
desejas que te queira?
queres que te queira?

quanto me
queres?
quanto me
desejas?

ah quanto te quero
quando te quero
quando me queres...

Poema Azul

Então não o sabíamos, já não se escrevia nos cafés,
porque já não se fumavam os vícios, Pessoa estivera sempre
morto e os demais poetas passeavam agitando as estátuas,
gritando versos à multidão surda.
Deixou de interessar contar quantos éramos à mesa sem
sinais de fogo.
Na certeza de escrever-te, perdida a voz que te falasse,
assumi os óculos de sol pequenos e quadrados
e castanhos monóculos por onde espreitar o estranho
mundo inavegável.
Então penso: cachimbo, fumo, caixa, café, chapéu, silêncio.
Vê como tenho evitado escrever-te.
As cidades não são líquidas,
reproduz-se em brandos depósitos a seca da geração anterior.
O passado é feito de muitas palavras – não é essa a
linguagem que persigo – e os que vieram antes de nós
afogaram-se em pátria, ponte apontada a cinza.
E fizeram baús maiores do que gente.
E fizeram grande gente que mata à fome um poema,
que não vê para além da caixa ou do que a sua tampa oculta.
Todo esse recolher das coisas aos seus lugares
exactos
leva ao extremo a tua ausência – se não estás aqui não
estás inteiro em lugar algum –
és um corpo entornado sobre o tapete. E também essa
recordação se há-de acomodar em nós, plantada em pele
fértil de pátria, ponte e cinza, ocupando
caixas e caixas de chapéu.
E dela guardaremos firme promessa. Agitando as estátuas,
domesticando o coração à cadência de novos sons internos.
De pouco me serve agora dizê-lo, mas não pertenço
a esse azul.
Nem quero barcos que hesitem sobre a mesma onda, pontes
por onde continuar a tua longínqua viagem,
moldura pequena, quadrada para encaixilhar a mancha
longa e caudalosa.
Quando corro dentro de mim meço apenas alguns palmos
e sujo o chão logo à entrada, mas sítio algum
se manteve intacto assim, como este, depois de teres partido.
Que se fumem os vícios. Fume-se esta linguagem que
persigo.
O ar passa a ter um cheiro doce e quente sempre que tento
escrever-te. Retornas em pedacinhos
em certas tardes de Inverno, como sedimentos de palavras
em terra firme.
Em doses virais.
Deixo que as formas me surpreendam e posicionando o
castanho monóculo, acendo o cachimbo imaginário para encher
de fumo no café a caixa de onde subtraio o chapéu íntimo.
Os que vieram antes gritam às estátuas. Vê como tenho
evitado escrever-te. Houve quem se escusasse ao furto das
águas e fosse lançar-se sobre as
palavras.
Nunca percebi porque tanto falam do mar. É nas trincheiras
deste jardim que mergulho, com todo este evitar-te e com todo
este escrever-me. E nele não há azuis.
Via blog bibliotecário de babel

Os amarelos de Novembro

Não tem palavras a minha canção preferida. Tem antes
os amarelos queimados de novembro. Gosto de gente antiga e
obscura, gente culpada, jovem ou envelhecida para
quem a vida não passa de um contínuo de sombra
por isso sei abraçar por isso partem sem regresso.
Sombras que surpreendo — não quebres não
estragues o amarelo de novembro.
E aquele que está sentado à nossa frente é entre
todas as coisas
a ideia mais perfeita, a mais real, a mais sólida.
No instante seguinte nada sabemos.
É assim o nosso modo de ser e a própria
condição do amor. Destruir,
riscar até desaparecerem os amarelos de novembro.
in Lagoeiros, Relógio d'Água, 2011

segunda-feira, 12 de março de 2012

Max Aub no Gato Vadio 2


Uma amostra do que se ouviu:

  1. Rachei-a de alto a baixo, como um animal, porque ela contava as moscas no tecto enquanto fazíamos amor.
  2. Matei-o porque julguei que ninguém estava a ver.
  3. Penso, logo existo, disse o tal homem famoso. As árvores do meu jardim existem, mas não creio que pensem, pelo que fica demonstrado que o senhor René não estava bom do juízo e que o mesmo acontece com outros seres: o meu sogro, por exemplo – existe, mas não pensa. Ou o meu editor, que pensa, mas não existe. E se pomos isto ao contrário, também não fica certo. Não existo porque penso ou penso porque existo. Pensar, pensa-se, existir é um mito. Eu não existo, sobrevivo, porque viver – aquilo a que se chama viver – só os que não pensam. Os que se metem a pensar, não vivem. A injustiça é por demais evidente. Bastaria que pensássemos para nos suicidarmos. Não; senhor Descartes: vivo, logo não penso, se pensasse não vivia, se vivesse não pensava, senhor… etc., etc. Se para viver fosse necessário pensar, estaríamos lúcidos. Mas, enfim, se os senhores estão convencidos de que assim é, estou inocente, completamente inocente, pois não penso nem quero pensar. Logo, se não penso não existo e, se não existo, como diabo posso ser responsável por essa morte?

sábado, 10 de março de 2012

Max Aub no Gato Vadio

Osvaldo Manuel Silvestre e Rui Manuel Amaral lêem os "Crimes Exemplares", de Max Aub.
Hoje, pelas 17h00, no Gato Vadio (Rua do Rosário, 281, Porto).

"Crimes Exemplares", de Max Aub (1903-1972), é uma colecção de contos curtos, secos e directos, por vezes muito violentos, outros com uma certa beleza poética e galhofeira, e que correspondem a confissões feitas por quem praticou um crime contra a vida de alguém. Uma das grandes obras-primas do humor negro.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Juro que nunca vou esquecer

Mercearia da Vila

Um pequeno tesouro no centro de Ponte de Lima, uma mercearia antiga transformada num belo café/restaurante conservando o traço original do edifício. Podemos encontrar objectos e produtos de outros tempos, sentimo-nos logo em casa devido à simpatia do staff.
Servem diárias e atenção às sobremesas, recomendo vivamente a tarte de maçã e aveia.
Muitos Parabéns e votos de um futuro risonho.
Visitem a Mercearia da Vila.
Nada melhor que preservar o que nos é querido! Um espaço com a "alma" que perdura desde há 100 anos, primeiro pelo mão do Manuel Pires de Melo, depois pelo Rodrigo Fernandes Melo e agora pelo Rodrigo Melo (filho). Não prometemos muito, apenas "viver" neste ambiente fantástico que esta casa possuí!

Ahhh! a poesia...

Se não pudermos dar tudo à poesia - e tudo quer dizer toda a verdade que há na nossa vida - não devemos continuar.


in Nuevas Cartas a un Joven Poeta (2009)
Via Editora Averno

An Hyperballad for miss V.

I go through all this
Before you wake up
So I can feel happier
To be safe again with you

quarta-feira, 7 de março de 2012

Sweet girl with red hair

Last night my kisses were banked in black hair
And in my bed, my lover, her hair was midnight black
And all her mystery dwelled within her black hair
And her black hair framed a happy heart-shaped face

And heavy-hooded eyes inside her black hair
Shined at me frome the depths of her hair of deepest black
While my fingers pushed into her straight black hair
Pulling her black hair back from her happy heart-shaped face

To kiss her milk-white throat, a dark curtain of black hair
Smothered me, my lover with her beautiful black hair
The smell of it is heavy. It is charged with life
On my fingers the smell of her deep black hair

Full of all my whispered words, her black hair
And wet with tears and good-byes, her hair of deepest black
All my tears cried against her milk-white throat
Hidden behind the curtain of her beautiful black hair

As deep as ink and black, black as the deepest sea
The smell of her black hair upon my pillow
Where her head and all its black hair did rest
Today she took a train to the West
Today she took a train to the West
Today she took a train to the West

Che restiamo qui abbandonati, come se non ci fosse più niente

Quando sei qui con me
questa stanza non ha più pareti
ma alberi,
alberi infiniti
quando sei qui vicino a me
questo soffitto viola
no, non esiste più.
Io vedo il cielo sopra noi
che restiamo qui
abbandonati
come se non ci fosse più
niente, più niente al mondo.
Suona un'armonica
mi sembra un organo
che vibra per te e per me
su nell'immensità del cielo.
Per te, per me:
nel cielo

Ode ao amor entre pintores

Para o Egon.

é tão ruidoso aquele bater do vento nas mãos
é tão límpido também aquele cheiro nauseante da aguarrás
poderia dizer-te vem e vamos pegar fogo a esta casa
e mudamo-nos para aquele canto
pôr nas palavras o pastoso sabor da cor
e passar pelo corpo os pincéis e a língua de gato
embebedarmo-nos com terebentina tomarmos mescalina
e outras coisas felizes compradas na feira
nas radiantes tardes naquele estúdio pequeno em frente ao mar
é tão ruidosa a existência de alguma coisa que começa
as telas encaixotadas a caminho de Bombaim
vão todas a arder mas não faz mal
é tão límpida cada mancha nos teus dedos
poderia envolver-me nos braços em teu redor
perguntar-te queres café compor-te o cabelo
adormecer no seguimento do cigarro
enquanto pintavas a noite nas paredes

é tudo tão ruidoso tão repentino
que não houve tempo de escolher as cortinas
com outros cuidados desculpa
também elas se põem todas a arder mas não faz mal
poderia pedir-te que me dissesses um poema longo
perguntar-te queres café compor-te o cabelo
enquanto escrevias os meus braços nas paredes
com marteladas fundas mas delicadas

nas paredes daquele pequeno estúdio em frente ao mar
há um ruído muito nosso
que passa em todas as estações de rádio e ninguém ouve
em todas as gasolineiras e ninguém ouve
em todas as tribunas e ninguém ouve
ele cabe ali naquele caos naquele vislumbre
e também ele se põe todo a arder mas não faz mal

o teu corpo é uma luva onde entro quando entras
uma luva à prova da bala que arde violentamente
à nossa procura
na pequena galeria dos cristais de sangue
a poesia acontece disparar abrir fogo
e o universo, naquele pequeno estúdio em frente ao mar,
não precisa de um desenho para nascer
quando dizes estou aqui a sorrir
e pegas na minha mão para o passeio habitual
depois de vestirmos os casacos de lã.

in Odes, Canto Escuro, 2008
Via blog lugares mal situados

terça-feira, 6 de março de 2012

Love is a fog that burns with the first daylight of reality.*

* Charles Bukowski

Canções alexandrinas

Talvez me tenham concebido ao meio-dia;
ao meio-dia, talvez eu tenha nascido;
portanto gosto, desde muito cedo, do sol
que lança rútilos raios.
Mas desde que eu vi os teus olhos,
tenho ficado indiferente ao sol radioso:
por que o amaria tão só a ele,
quando dois sóis em teus olhos brilham.

(tradução de Oleg Almeida, publicada originalmente na Revista Literária em Tradução, ano II, março de 2011.)
Via blog Modo de Usar & Co

But the darkest pit in me, It's pagan poetry

Dizes que me amas de uma tal forma,
que não consigo deixar de corar;
que me amas de um modo primitivo,
sem razão aparente e sem desculpas
e que me amas porque me desejas,
porque sabes que eu também te amo
e como o monstro deste amor nos devora
a alma, a paciência e as maneiras.
É uma pena que todas estas coisas
morram em nós afogadas de silêncio.

You're the piece of gold the flashes on my soul.

I'm a high school lover, and you're my favorite flavor
Love is all, all my soul
You're my playground love

Yet my hands are shaking
I feel my body remains, time's no matter, I'm on fire
On the playground, love.

You're the piece of gold the flashes on my soul.
Extra time, on the ground.
You're my playground love.

Anytime, anywhere,
You're my playground love.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Elegia

Tempo de dança num vago compasso de bela toada
fecha solene a última festa do longo inverno.
Chove de novo na húmida noite gelada de março;
nada faria prever o perfume da música nova.

Vejo agora teu rosto no espelho da sala dourada;
luzem teus olhos ao brilho das velas nos lustres acesos,
quando de novo a orquestra entoa a música nova,
sempre que soa no brilho da sala a triste gavote.

Música minha alheia não soa às árvores altas:
ramos e folhas ondulam à chuva na escura montanha,
cantam por mim o que vejo ao ver-te no límpido espelho,
hoje que mais do que nunca rebrilham teus olhos brilhantes.

Pena seria portanto perdermos a última dança;
ambos sabemos que vêm vazios compassos de espera,
logo que raie daqui a minutos a pálida aurora,
ela que traz como sempre o ocaso dos nossos amores.

where the wild roses grow

A mulher caminha pelas urzes, no auge
do vento, já depois da morte, enovelada
pelos ramos que cortam a paisagem.
O homem está parado como uma ave
de pedra, batida pelo fumo. Depois, é o
corpo dela desfeito sobre os rochedos,
uma faísca que incendeia um pedaço
de madeira. O homem, amarrado a uma
mancha de ferro, contempla o corpo vazio.
Um pássaro cego cai em cima de um espelho.
É o rosto dele despedaçado, a dor.
Tudo é medonho à sua volta, a parte
de trás da luz, a humidade, a respiração
das plantas.

in Necrophilia, Relógio d'Água, 2010.
Via blog a luz da noite.

Os amantes

Ninguém acredita nos amantes
Enquanto estão vivos, os cafés fecham à hora
e os táxis são raros depois da meia-noite
A própria noite não acredita neles
e retira-se cedo dos jardins públicos
para invadir os quartos de dormir
onde as paredes gemem sob o peso das coisas
E, quando morrem, os seus caixões são estreitos
como os dos outros

Êxodo, 13:9

Assim as estrelas vivem durante o dia
como um brilho atrás dos teus olhos fechados
como um sinal na tua testa.
A árvore sonhada floresce
sem nenhuma fórmula para a sua beleza.
Poiso a minha mão no teu ombro
deixo dois dedos escorregar ao longo do teu pescoço
passando na tua orelha.
Desenho entre séculos
uma escala laranja de vozes.
Escrevo o nosso tempo
do carvão ao diamante.
Em breve terei o fogo
uma chama
que há-de acender-se entre nós
 - um rosto que brilhe.
Via blog donne moi ma chance

Lay down in the green grass

Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me
(...)

sábado, 3 de março de 2012

Hoje bailamos juntos

De cara a la Pared

Oiço ainda os corpos  vincar a noite
um campo minado
de corações tristes
explodindo o rosto na parede
foi talvez a nossa última canção

quando as paredes eram já outras
e nas caras se perdiam novos nomes
voltei a ela muitas músicas depois
foi talvez, a nossa última canção

o coração, que me deixaste
é uma casa difícil de habitar
o coração, que me deixaste
é uma casa difícil de habitar

um terrível verso solitário
e a culpa, de a ter levado
a um coração onde as canções
onde as canções
morreriam de frio

o coração, que me deixaste
é uma casa difícil de habitar
o coração, que me deixaste
é uma casa difícil de habitar

Logo à noite concerto d'A Naifa no Theatro Circo.

A ras de sueño

(...)
Hay que amar con horror para salvarse,
amanecer cuando los mansos dientes
muerden, para salvarse, o por lo menos
para creerse a salvo, que es bastante.
Hay que amar sentenciado y sin urgencia,
para salvarse, para guarecerse
de esa muerte que llueve hielo o fuego.
(...)
Hay que amar con valor, para salvarse.
Sin luna, sin nostalgia, sin pretextos,
Hay que despilfarrar en una noche
—que puede ser mil y una— el universo,
sin augurios, sin planes, sin temblores,
sin convenios, sin votos, con olvido,
desnudos cuerpo y alma, disponibles
para ser otro y otra a ras de sueño.
(...)
Via edições Averno

sexta-feira, 2 de março de 2012

LOT

Ninguém conhece melhor a tristeza
do que eu. Não uma melancolia
branda de algodão doce,
nem a chamada no sangue
de uma janela, mas as veias
com o mar inteiro lá dentro
e os ossos ainda tão fundo.

A tristeza como uma crosta
de mármore colada à pele.
E sobre as pálpebras
o cinzel dos passos
que não quiseram esquecer,
que já não me seguem,
batendo sempre.
via o fabuloso blog arquivo de cabeceira.

bohemian cloudy day

Hoje na praia de Moledo