a culpa, a minha grande culpa,
um hábito antigo e longo
que me disfarça as cicatrizes.
tenho frio e uma confissão
para te fazer: traí-te tanto
com outros versos, corpos
belíssimos, esguios e quentes
aninhando-se comigo na cama.
trago esta culpa nos ossos,
enganei-te letra após letra,
sem pudor, feri de morte ton espoir
et ton grand sens de l'honneur,
essa vaidade do verso livre
com que atravessas o papel.
traí-te sem pensar e dir-te-ia
para partires já, ligeiro e mudo,
não fosse esta grande culpa
nos ossos, que me faz reescrever-te
ainda sobre o vazio do poema
in Small Song, ed. Averno, 2010.
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