Morreu a mais
bela mulher do mundo
tão bela que não
só era assim bela
como mais que
chamar-lhe marilyn
devíamos mas era
reservar apenas para ela
o seco sóbrio
simples nome de mulher
em vez de
marilyn dizer mulher
Não havia no
fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu
demasiados barbitúricos
uma noite ao
deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que
tinha errado a vida
ela de quem a
vida a bem dizer não era digna
e que exibia
vida mesmo quando a suprimia
Não havia no
mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um
dia dispôs do direito
ao uso e ao
abuso de ser bela
e decidiu de vez
não mais o ser
nem doravante
ser sequer mulher
O último dos rostos
que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem
regresso mais que rosto mar
e toda a
confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a
violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo
mar intensamente condensar
Tomou todos os
tubos que tinha e não tinha
e disse à
governanta não me acorde amanhã
estou cansada e
necessito de dormir
estou cansada e
é preciso eu descansar
Nunca ninguém
foi tão amado como ela
nunca ninguém se
viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a
mulher mais bela
mas não há coisa
alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão
é pedra em nosso peito
Perto de marilyn
havia aqueles comprimidos
seriam solução
sentiu na mão a mãe
estava tão
sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal
a utilizavam
que viam por
trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo
de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja
bela o adjectivo a empregar
que em vez de
ver um todo se decida dissecar
analisar partir
multiplicar em partes
Toda a mulher
que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não
amavam todo o tempo como que parou
quis ser atá ao
fim coisa que mexe coisa viva
um segundo
bastou foi só estender a mão
e então o tempo
sim foi coisa que passou.
Sem comentários:
Enviar um comentário