A viagem acaba aqui:
nos mesquinhos cuidados que dividem
a alma que não sabe já dar um grito.
Agora os minutos são iguais e fixos
como as voltas da roda de uma bomba.
Uma volta: a subida da água que retumba.
Uma outra, nova água, por vezes um ranger.
A viagem acaba nesta praia
que os assíduos e lentos fluxos atormentam.
Nada se desvela para além dos preguiçosos fumos
a marina que tecem de conchas
os benignos ventos: e é raro que se mostrem
na bonança muda
entre as ilhas do ar migrantes
os espinhaços da Córsega ou a Capraia
Tu perguntas se tudo assim se desvanece
Nesta pouca névoa de memórias;
Se na hora que entorpece ou no suspiro
do recife se cumprem todos os destinos.
Queria dizer-te que não, que se aproxima
a hora em que passarás para lá do tempo;
talvez só quem o quer seja infinito.
e isso tu poderás, quem sabe, mas eu não.
Penso que para os mais não haja salvação,
mas alguns subvertem todo o desígnio,
passam o umbral, encontram-se de novo quando querem.
Antes de renunciar queria indicar-te
este modo de fuga.
lábil como os agitados campos
do mar a espuma ou a ruga.
Dou-te também a minha avara esperança.
Para novos dias, cansado, não sei alimentá-la:
dou-a em penhor ao teu fado, p’ra que ela te salve.
O caminho acaba nesta riba
Que a maré rói com movimento alterno.
O teu coração está perto e não me liga
levanta ferro já talvez para o eterno
Via blog O Melhor Amigo
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